Sua banda e o Ableton Live no palco. Isso é Live PA.
Aprender Música

Sua banda e o Ableton Live no palco. Isso é Live PA.


Você montou uma banda com seus amigos? Tá indo tocar? Pensando em gravar o show? Não esqueça de levar a mesa de som, a mesa de monitor, os pedais, os amplificadores, todas as fontes e cabos de AC de seus respectivos usuários, um mar de cabos de áudio diversos, multi-cabos, banheiras, cabos MIDI, cabos que você nunca irá utilizar, adaptadores sortidos, extensões, filtros de linha, quem sabe algum efeito vintage, um reverb, um delay, um equalizador gráfico, os monitores, as DIs, os microfones, os pedestais, os cachimbos (dos microfones obviamente), os instrumentos, a potência, as caixas, mais cabos, o gravador, fones de ouvido, divisor de fone, um amigo para ficar na mesa, outro amigo para ficar na mesa de monitor, gravador, fita crepe, alicate, chave de fenda, ferro de solda, estanho, multímetro, adaptador 220V/110V, arame, papel alumínio (pra fazer aquela gambiarra no fuzível), papel, caneta, fósforo, capa de chuva e por fim uma imagem de Santa Cecília, padroeira dos músicos para ajudar na hora do estress.


Por esta cena quase digna de um filme de Hitchcock (pois nunca sabemos o que vai acontecer no final) algumas bandas já passaram várias vezes ou estão a caminho de encontrar uma situação similar, principalmente na fase onde todos tem que fazer tudo, PA incluso.
            
Com certeza grande parte da confusão pode ficar no passado e podemos dar lugar a oportunidade de repensar o que podemos fazer com a tecnologia. Pergunte-se: Eu preciso mesmo de um monte de pedais? Preciso levar mesmo uma pedaleira e um amp de guitarra? Preciso de uma mesa de som e outra de monitor? Periféricos? Excetuando-se os instrumentos, microfones e os itens do PA propriamente dito, como caixas e afins, podemos fazer um pequeno show utilizando o próprio Live como Mixer, monitor, processador de efeitos e ainda como gravador na Front of House. Pense em ter uma pessoa dedicada para pilotar o Live, esse é o técnico da banda e que poderá mudar efeitos em tempo real e contribuir criativamente para o som do grupo, mas nada impede que os próprios músicos controlem seus Rigs através de controladores MIDI, caso necessário.

Hoje estamos revendo o conceito tradicional de banda, o que pode abalar um pouco os que cresceram com a imagem criada por muitos anos de rock’n’roll, mas a tecnologia está cada vez mais presente e está ajudando a gente a fazer música e shows cada vez melhores, porém levando menos coisas e (às vezes) gastando menos.
            
Muito bem, você resolveu parar para pensar no assunto e gostou da idéia. Quem sabe você até já usa uns loops no palco, um instrumentinho virtual ou está pensando em chamar um Dj pra tocar junto....vamos então aos fatos:

O Live no Palco
            
Para levar o Live ao palco precisamos resolver algumas questões antes: o primeiro obstáculo a ser vencido é a quantidade de canais de entrada necessárias para os instrumentos de verdade e para as vozes, isto pode ser resolvido com duas saídas: A primeira parte da solução é utilizar uma interface de áudio que tenha o número de canais suficientes, por exemplo: uma que tenha 8 canais analógicos e mais 8 canais digitais via ADAT Lightpipe - essa configuração é um padrão comum de se achar no mercado e irá comportar a maioria das bandas comuns.
            
A segunda parte é relativa a quantidade de pré-amplificadores. Se eles já estiverem embutidos dentro da interface em cada canal analógico melhor, assim você precisará apenas de mais um equipamento que receba mais 8 sinais analógicos e transforme-os em um sinal ADAT, que sairá pelo seu respectivo conector ADAT Out e entrará no conector ADAT in da interface de áudio, ganhando mais 8 canais analógicos de conexão, totalizando 16 inputs físicos - suficientes para uma bateria bem microfonada, duas guitarras, três vocais, um baixo, um percussionista e um Dj. Normalmente estas interfaces também contém um casador de impedância para os instrumentos elétricos de cordas nas entradas um e dois e também suportam sinal de linha, resolvendo a questão de conexão do Dj.
            
Cadê o tecladista? Você deve estar pensando. Calma! Ele está tranquilamente tocando seu instrumento virtual através de um controlador MIDI/USB, ou vários. Mais sobre ele daqui a pouco.
            
O próximo mistério é sincronizar o Clock da interface com o Pré conversor ADAT. É simples: um deles deve ser o Master e o outro o Slave. Esse ajuste pode ser feito através de um simples apertar de botão no conversor e alguns cliques no painel de controle da interface de áudio. Normalmente as opções de sincronismo pode ser pela própria porta ADAT ou então através de ligação via wordclock, conectando-se os conectores BNC dos equipamentos para este fim e definindo esta opção no painel de ambos.
            
Com apenas estes dois equipamentos (uma interface de áudio com entradas analógicas e ADAT com pré amplificadores embutidos e um pré-amplificador conversor Analógico/Digital no padrão ADAT) podemos mandar 16 sinais individuais pré-amplificados para dentro do Live sem nenhum mistério.
            
Alternativamente se as entradas da interface de áudio forem todas de linha podemos utilizar uma mesa de som com recurso Direct Out por canal. Esta receberá o som dos diferentes instrumentos e cada sinal individual sairá pelos conectores Direct Out de seus respectivos canais e entrará nos canais da interface de áudio, promovendo pré-amplificação, todavia esta vai ocupar mais espaço no case que o pré-amplificador conversor ADAT.
            
A interface de áudio estará conectada ao computador e é quase só isso que iremos precisar além do Live, nada mais será necessário além de alguns cabos e o PA.
           
Cada canal real (input físico da interface de áudio) estará enviando sinal para um canal virtual no Live, portanto o próximo passo é criar uma Sessão no Live. No geral usa-se o Session Mode para fazer os ajustes, pois a visualização de sinal é melhor: crie a quantidade de canais que estarão em uso simultâneo indo ao Menu Insert e escolhendo a opção Insert Audio Track , organize-os da maneia que quiser, inclusive renomeando-os (clique com o botão direito sobre o nome e escolha Rename) e direcione o roteamento correto nas caixas da região Audio From, escolhendo a opção Ext. In na primeira caixa e o número do canal na caixa de baixo. Habilite a monitoração de cada canal clicando no botão Monitor In. Na sequência é necessário ajustar cada canal conforme o gosto do cliente e agora começa a parte legal: podemos insertar quantos plug-ins desejarmos em cada um deles e estes irão atuar em tempo real processando o sinal de entrada de seus canais. Diga adeus aos periféricos, pedais e amplificadores. Dessa forma, todo sinal que chegar ao Live poderá ser manipulado em tempo real e sair bonito no PA. 


[FIGURA 1]
           
Latência
            
A segunda questão importante a ser resolvida é a latência.
            
A latência é o tempo que demora para o sinal analógico passar pelo conversor analógico/digital, chegar ao software, ser processado e sair pelo conversor digital/analógico. Todo esse percurso leva algum tempo, então pensar que estamos processando em tempo real não é uma verdade absoluta, mas de qualquer forma esse atraso é tão pequeno que nosso cérebro  compensa automaticamente e nem percebemos que ele existe quando tocamos. De qualquer forma vale a regra: quanto mais processamento , mais máquina será necessária, portanto, numa situação de Live PA de fato será necessário um bom computador e uma interface de áudio rápida. O importante é que a latência fique abaixo de 10ms ajustando-se o buffer no painel do driver ou no software para o mais baixo possível antes de ouvir os estalinhos clássicos. No Live vá em Preferences > guia Audio > campo Latency e ajuste o valor Buffer Size caso seu sistema permita. Caso contrário ajuste no Driver da interface de áudio antes de abrir o Live.

MIDI
            
O tecladista vai se beneficiar do Live tocando seu instrumento totalmente no âmbito digital. Basta criar para ele um canal MIDI e insertar seu instrumento virtual preferido. De seu controlador MIDI/USB o tecladista pode tocar os timbres residentes no Live. Se for necessário crie mais canais MIDI para abrigar mais plug-ins de instrumentos virtuais. Da mesma maneira que direcionamos áudio também podemos direcionar o sinal MIDI para cada instrumento em cada canal acessando a caixa MIDI From.
            
Quem sabe o baterista também goste da idéia e parta para um instrumento virtual também, tem plug-ins muito melhores que muita bateria microfonada nos palcos por aí. Nesse caso há uma grande economia de microfones, prés, cabos e ficam resolvidos os problemas de vazamentos de sinal.
            
Em termos de controle é possível que cada músico precise de um setup próprio para mudar bancos de timbres e/ou ligar e desligar efeitos, por exemplo. Nesse caso, cada um pode ter uma superfície de controle MIDI?USB na forma que for mais própria para seu instrumento, como um teclado MIDI, uma pedaleira MIDI ou Pads de bateria MIDI conectados ao computador do PA. Usaremos então a configuração de roteamento MIDI de cada um para os parâmetros do Live apenas clicando no botão MIDI do canto superior direito, clicando no parâmetro e movimentando o botão da superfície de controle do músico. Lembre que a opção Remote deve estar em On no painel de preferência do Live, na Guia MIDI Sync logo ao lado da interface instalada.
           
Monitoração           
            
O terceiro ponto a discutir é a monitoração.
            
Como todo mundo está se beneficiando do software para processar seus instrumentos em tempo real, nada mais justo do que usar o próprio software para fazer a monitoração.
             
Se a interface de áudio tiver várias saídas também, podemos rotear algumas delas para criar vias de fone para os diferentes músicos utilizando as mandadas auxiliares e direcionando-as para canais de saída específicos, por exemplo:
            
Crie três vias estéreo de monitoração criando três canais de Return indo ao Menu Insert e escolhendo a opção Insert Return Track. Em cada um deles defina um par de saídas independentes na região Audio To. Na primeira caixa escolha a opção Ext. Out e na de baixo escolha saídas diferentes das do PA, por exemplo: 3/4 para o músico 1, 5/6 para o músico 2 e 7/8 para o músico 3.
            
Em cada canal que recebe o input dos instrumentos abra o botão de send correspondente para fazer a mix de fone específica do gosto de cada participante da banda. Agora é só pegar estes sinais e mandar para amplificadores de fone de ouvido individuais ou um que seja multicanal.


[FIGURA 2]
            
Se for um setup mais simples, houver déficit de saídas na interface ou se todos ficarem contentes em escutar a mixagem geral podemos usar o recurso de CUE em cada canal e mandá-lo para as saídas 3/4 da interface.           

Visualize as entadas e saídas do canal master e selecione uma opção diferente da utilizada pelo PA, normalmente a opção 3/4 na caixa CUE. Clique o botão de solo no canal master para virar CUE. Cada canal perde o botão solo e ganha o botão CUE. Habilite-os todos para mandar sinal também para os monitores. 


[FIGURA 3]

Mandadas Auxiliares
            
É sempre bom aliviar um pouco a máquina com mandadas auxiliares. Crie algumas para abrigar os efeitos gerais que todos irão utilizar, como reverb, delay e chorus. Envie sinal de cada canal para estas individualmente para processá-los com menos poder computacional que insertando os mesmos plug-ins em todos os canais. 


[FIGURA 4]
           
MIDI Clock
            
Mais uma questão para refletir: O Live também tem uma característica importante que é o sincronismo externo via MIDI Clock. Quando dois músicos vão tocar juntos, cada qual com seu laptop e seu Live, ambos podem se conectar um ao outro através da porta MIDI de suas interfaces e fazer com que seus Lives toquem sincronizados. Qualquer alteração de andamento ou o de posicionamento do cursor na linha do tempo em uma das máquinas faz com que a outra responda simpaticamente.         

Mais molho
            
Não esqueça que o Live ainda pode usar loops ao seu favor. Basta criar um canal de áudio e organizar alguns lá dentro e dispará-los durante o show junto com os músicos tocando, mais uma justificativa para ter um técnico. Não pense que será mais um para dividir o cachê!

Gravando
            
Ao apertar a tecla Rec no topo do Live com todos os canais habilitados para gravação e disparar o play, toda a informação que estiver chegando nos seus canais virtuais serão escritas no Modo Arrangement. Uma forma prática de gravar o Show. Depois é só editar da maneira que quiser e lembre-se, como o sinal está chegando seco, podemos processar tudo de novo com outras variantes de plug-ins e dar outra cara para o resultado final.        
            
Dependendo da quantidade de canais e plug-ins pode ser necessário adquirir um HD mais rápido, use ao menos um de 7200RPM.

Conclusão
            
Converse com seus amigos para ver se vale a pena encarar essa nova fronteira, talvez vocês se surpreendam com as portas que irão se abrir.

            Considere os seguintes pontos positivos:
            Estímulo para uma sonoridade exclusiva da banda.
            Diminui a quantidade de coisa para levar.
            Reduz o problema com conexões de equipamentos.
            Psssibilidade de gravar todo show e ensaio.
            Colocar loops em tempo real
            Uso ilimitado de samplers
            Acesso à inúmeros processadores em tempo real 

Longe de ser vanguarda esse assunto, o importante é abrir as nossas mentes para que a tecnologia possa mostrar alguns caminhos alternativos. Se você está repensando a sua carreira e está em busca de algo novo, talvez deixar a tecnologia jogar ao seu favor pode ser um novo ramo criativo para você.

Ultiminha

O computador. 
Que computador você tá pensando em usar? 
Eu gosto de pensar que computador é que nem camarão: Quanto maior melhor. Por isso compre o maiorzão em tudo e se der compre lagosta.



Abração.



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