Aprender Música

Pro Tools 9 - A revolução

Liberté, Egalité, Fraternité

Originalmente publicado na AM&T edição Dezembro de 2010

Durante a Revolução Francesa estas três palavras (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) foram as principais ferramentas para livrar a França do feudalismo e dos privilégios do clero e da nobreza, levando-a rumo ao mundo moderno.

A bandeira da França

Retratadas também em película, na trilogia das cores do diretor polonês Kieslowski, essas mesmas palavras levaram-no a ganhar vários prêmios e com certeza marcou a vida de muita gente através de belas cenas, excelentes argumentos e o curioso entrelaçamento de eventos entre os três filmes.

Uma dessas palavras cai muito bem para descrever a principal novidade do novo Pro Tools, a liberdade.

Agora o Pro Tools é aberto!

Isso significa que ele a partir deste momento passa a funcionar com qualquer interface de áudio compatível com ASIO ou CoreAudio, sendo assim funciona até com a modesta built-in do seu macbook, por exemplo.

Com mesmo ímpeto de uma verdadeira revolução, nessa era iluminada (para não falar iluminista), cai a Bastilha e define-se que não existe mais Pro Tools M-Powered, nem LE, nem HD, nem interface alguma que impede o software de funcionar.

Agora o Pro Tools passa a ser um software apenas, singelamente autorizado via ilok e que reside em uma única versão de instalação que é ativada de forma diferente dependendo do hardware presente e da autorização da chave, por exemplo: Se você tem um interface da AVID, como a nova Mbox, a instalação abre os recursos da versão Pro Tools 9; Se você tem um hardware do Pro Tools HD, como a nova HD OMNI (Interface) rodando em conjunto com a HD Native (Placa PCIe), a versão ativada do software é a Pro Tools 9 HD, com alguns recursos a mais que o Pro Tools 9. Podemos então dizer que - toscamente - o Pro Tools 9 é o Pro Tools LE e o Pro Tools 9 HD é o Pro Tools HD. Uma coisa boa é que se você tem o Pro Tools 9 HD autorizado na chave e também tem uma interfacesinha mais simples (tipo a built-in do seu mac), quando você for autorizar o software com ela você acaba autorizando o pacote de expansão Complete Production Toolkit 2 junto, que habilita inúmeros recursos extras, entre eles a possibilidade de mixagem em 5.1 e 7.1 e mais canais de mixagem. É praticamente o Pro Tools 9 HD rodando na placa interna do seu micro. Imagine!

The Box

Ok, sua placa é uma M-Audio e não existe mais M-Powered. Já era? Nada disso, o mesmo Pro Tools 9 da Mbox é ativado. Sua placa é uma Tascam ou Native Instruments? Pro Tools 9 para você, e assim por diante.

O bonito é que as pessoas podem ter o livre arbítrio de usar o software com a interface de áudio que quiser e não ter que usar um hardware porque quer usar um software. Esse foi um passo corajoso. Pergunta: - Como ficam posicionadas no mercado as interfaces da AVID? Você pode estar pensando. Ora, eu questiono, porque não usá-las? Elas sempre foram de excelente qualidade e oferecem a integração mais que perfeita ao software e mais, vem o Pro Tools 9 junto, de graça, mas você pode optar por uma Focusrite e comprar o Pro Tools separado que vai continuar sendo perfeito seu setup. Que tal uma Apogee e o Pro Tools? Ótimo. Que tal ele e qualquer outra? Você é quem sabe, o software vai sempre abrir do mesmo jeito, agora é você quem escolhe a qualidade de seus conversores.

Pro Tools 9 e Sound Blaster 16? Só em Hogwarts.

Se você já tem uma interface de áudio que você gosta, mas precisa de mais canais (e por coincidência está usando o sistema operacional Mac os X) você pode usar um recurso que se chama "Aggregate IO" (nativo do sistema da Apple) e juntar duas ou mais interfaces conectadas ao computador para que o Pro Tools 9 reconheça-as como uma só. Mais canais express!

Agora a questão é: Porque usar o Pro Tools se existem dezenas de outros software de gravação por aí, além dos que são livres e gratuitos, não era o hardware que fazia a diferença? É verdade que ele é o software mais comentado, odiado, amado, respeitado, analisado, estudado e todos os "ados" de todos os tempos da nossa carreira técnica e musical e, indubitavelmente ele é o mais usado (para usar o "ado" de novo). A possível resposta deve estar em seu manual de 1246 páginas ou no fato de ter sido usando em tantas e tantas e tantas músicas nas últimas décadas; ele só pode estar entre os melhores, mais fáceis de usar e com melhor som, pois é fato que está presente na maioria dos estúdios do mundo, dos minúsculos aos gigantes, portanto essa gente toda não pode estar errando em um delírio coletivo.

Além de estarmos livres para escolher o nosso hardware o Pro Tools 9 também atualiza algumas caracterísicas técnicas que eleva-o ainda mais como candidato sério a ocupar o cerne de estações que antes eram ocupadas por outro software de produtores e técnicos criteriosos, porém ressabiados ou indecisos.

Nesta nova versão, o Pro Tools 9 permite até 96 canais mono ou estéreos simultâneos em uma única sessão e que pode ser expandido para até 192 (quantidade nativa da versão HD) ou com a aquisição do pacote complementar Complete Production Toolkit 2.

É possível gravar e monitorar até 32 canais simultâneos nesta nova versão (que tal uma interface de 32 ins e 32 outs?). Cada interface de áudio agora passa a usar um Engine específico e otimizado para si, dentre eles o HD TDM e HD Native para hardwares AVID HD, Direct I/O para hardwares AVID e M-Audio ou CoreAudio e ASIO para interfaces de outros fabricantes, tanto faz, todos são de excelente qualidade, mas os dois primeiros oferecem melhor integração. Na versão HD são 160 canais ativos simultâneos de gravação sendo esta soma perfeita para capturar shows em elíssima qualidade de conversão. De modo geral a quantidade de canais de instrumentos, MIDI, auxiliares e busses também aumentou, veja o box para comparar as diferentes versões.

O novo processador intel

Outra coisa que aumentou também foi a resolução. Agora é possível gravar em qualquer versão até a resolução de 192kHz em 24Bits, perfeito para quem quer ocupar terras ociosas em HDs latifundiários ou ver até onde vai seu Quad 6 Core Intel Xeon Westmere.

Outra novidade é a implementação de mais um novo protocolo de comunicação de superfícies de controle, junto com as já existentes, o Eucon. A Euphonix, um dos maiores e mais conceituados fabricantes de mesas digitais e superfícies de controle profissionais do mercado elaborou este protocolo que é simplesmente "state of the art" para usar as palavras do fabricante, ou seja, é tão incrível trabalhar com esse protocolo que a gente até dá uns sorrisos de vez em quando no meio da mixagem. Então, agora está incorporado dentro do Pro Tools e se você tem uma Euphonix com este protocolo, parabéns! Agora você vai controlar tudo no Pro Tools de um jeito nunca visto, via uma portinha ethernet e em alta velocidade de comunicação.

Euphonix MC MIX: tetéia-tchucu-tchucu-nenêm do papai

O Pro Tools 9 ganhou alguns recursos também que só faziam parte do pacote de expansão DV Toolkit 2 (que deixa de existir) ou do Pro Tools HD e mais outros recursos adicionais, dentre estes destaco os seguintes:

A possibilidade de ajustar a largura da abertura dos panorâmas dos canais estéreos (controle Pan Depth)
Importação e exportação direta de arquivos AAF, MXF e OMF
Bounce em MP3
Novos seletores de entrada e de saída dos canais
Compensação automática de atraso (delay compensation) inclusive para MIDI e insert físicos
I/O setup com sobreposição de entradas e de saídas
Gravação em modo de monitoração de baixa latência (Low Latency mode)
Régua e sincronismo com Time Code com precisão de frame
Janela Edit com função de rolamento automático (auto scrolling)
Beat Detective multicanal

A tela quase igual a versão 8. Ok: igual!

Controle remoto integrado do hardware PRE (pré-amplificador AVID de 8 canais)

Outras novidades, apesar de não estarem descritas acima, melhoram o software como um todo tornando-o ultra eficiente, poderoso e fácil de usar. Ah! Quase tinha esquecido de mencionar que ele é compatível com qualquer placa de áudio rodando em ASIO ou CoreAudio; desculpe, você já tá sabendo.

Aproveite agora a onda revolucionária e liberte-se de antigos preconceitos, torne-se competitivo de igual para igual e seja mais fraternal com seus clientes e principalmente com você mesmo.

Pro Tools LE e Mbox mini

Mini FAQ:

O Pro Tools 9 (versão com caixa) vem com ilok? Sim.
Posso autorizar o Pro Tools 9 no meu ilok antigo? Sim.
Eu comprei o Pro Tools 8 hoje, eu vou ganhar o Pro Tools 9? Não.
Vai existir upgrade de M-Powered, LE ou HD para o 9 em um preço mais baixo que a versão comercial? Sim.
Vai continuar a existir suporte para a versão 8 LE, MP e HD (CSs)? Sim.
Roda em sistemas operacionais de 64Bits? Sim.
Roda em 64 bits? Não.
Existem diferenças entre as versões 9 HD e 9 com o Complete Production Toolkit 2? Sim.
Se eu comprar o Complete Production Toolkit 2, vou poder ter o HEAT? Não.
Eu já tenho o Complete Production Toolkit 1, vou ter que comprar o 2? Não.
O HEAT vem de graça na versão 9 HD? Sim.
As funcionalidades do DV Toolkit 2 vem de graça em qualquer uma das versões 9? Sim.
Se eu tenho um Pro Tools HD 9 autorizado no meu ilok e usá-lo para abrir uma mixagem com a built-in, vou poder mixar 192 canais? Sim.
Eu tenho um sistema Interface HD + Placa Native + Pro Tools HD 9, vou poder usar plug-ins TDM? Não.
Vai funcionar com meu sistema Venue? Sim. (um dia)
O Bounce ainda é em tempo real? Sim.
As sessões do 9 são exportáveis para as versões mais antigas? Sim.
O 9 abre sessões antigas? Sim.
Só roda do Mac os X Snow Leopard em diante? Sim.
Só roda do Windows 7 em diante? Sim.
O Pro Tools 9 vai funcionar com qualquer interface de áudio compatível com ASIO ou CoreAudio? Ok, prometo que não vou falar de novo!

Update: estranhamente a AVID fechou a compatibilidade do PT9 com a Mbox 1 (aquela com pré focusrite) e também com a Digi 001. Vai saber...Estratégia comercial?

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