Três dicas simples para otimizar seu trabalho no Pro Tools
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Três dicas simples para otimizar seu trabalho no Pro Tools



Tem um arquiteto famoso chamado Ludwig Mies van der Rohe que disse a seguinte frase:

“Deus está nos detalhes.”

Concordo em gênero e grau e acredito ainda que Deus está em outros lugares também. Detalhe é uma coisa importante e de fato é ele (ou Ele) que faz a diferença.
Os projetos do Mies (como é chamado pelos meus colegas arquitetos) são simplesmente fantásticos, super simples, minimalistas, retos, claros, bonitos, modernos, meticulosos, tanto que nem parecem ser do começo do século passado. Sugiro que você ao menos conheça a casa Farnsworth e o célebre pavilhão de Barcelona; só “googlear” e em dois minutos você já estará apreciando uma arquitetura com sopro divino.


As fotos da época de conclusão desses projetos do Mies são até esquisitas; uma arquitetura espetacular e um calhambeque parado na garagem, hilário. Um Porsche Cayman 2012 combinaria melhor, que é igualmente rico em detalhes, mas sem overflow, excetuando-se a categoria “tutu”.

Essa riqueza de detalhes suaves vem do movimento minimalista e também do célebre conceito Less is More, menos é mais, na nossa língua, ou seja: quanto menos, melhor. Eu particularmente uso isso também no Pro Tools e no trabalho que faço. Evito compressões pesadas, equalizações severas, reverbs densos, excetuando quando quero atingir algum efeito que a massa encefálica ou o coração determinou. Lembro sempre do mote: se a pista tá complicada de finalizar é porque algo deu errado na gravação. Melhor gravar de novo mudando a técnica (quando for possível!).

Entenda que não estou falando para você ser mais conservador, pelo contrário; explore tudo ao máximo, ouse, esteja na vanguarda, mas seja simples. São coisas simples que fazem a grande diferença e são estas que rompem os paradigmas.

Certamente as coisas simples são as coisas mais difíceis de se lidar justamente por serem simples, pois acabam passando desapercebidas. Quando aprendemos a enxergá-las e tirar proveito delas, tudo melhora.

No Pro Tools há um monte de recursos simples que dificilmente são utilizados no dia a dia, mas que fazem uma boa diferença no conjunto complexo que criamos, hoje vou falar de três deles:

  1. Pre fader metering – Monitoração pré-fader.
O Pro Tools vem com algumas preferências já organizadas de fábrica e quem as configurou não fui eu, nem você, portanto obviamente alguma coisa não estará como gostaríamos.
Você já sabe que o Pro Tools não consegue regular o sinal de entrada que está chegando nele mesmo. Todo ajuste de intensidade de sinal deve ser feito na fonte ou no pré-amplificador. É fato que precisamos monitorar a intensidade do sinal com bastante critério, pois saturação digital é horripilante e sinal chegando baixo também é, este último por conta dos poucos bits que irá utilizar.

Quando estamos monitorando via software o sinal de áudio que está chegando na interface de áudio (com sua pista habilitada para gravação) o fader não influenciará a medição, pois esta sempre será pré-fader. Por outro lado, se estivermos monitorando o sinal de áudio na pista já gravada o fader pode de fato atrapalhar a medição, especialmente se este não estiver em modo pré-fader e houver um plug-in insertado. Netse cenário é possível que este plug-in insertado esteja clipando e o VU da pista esteja abaixo do ponto de saturação, justamente porque o fader dessa pista está segurando a medição, mas o sinal está saindo distorcido.

Para visualizarmos o VU da pista sem influênica do seu fader precisamos habilitar o modo Pre-Fader metering do Pro Tools, assim o sinal é medido antes do ponto onde o fader está. Assim podemos visualizar o sinal nu e cru da pista, que inclusive passa pelos slots de insert. Esta opção fica no menu Options.

Figura 1 - Opção Pré-Fader metering ligada no menu Options.

Faça um teste: Grave uma voz em uma pista o mais próximo do full scale possível, ficando de olho na medição e controlando o sinal para que fique dentro da parte inferior da área alaranjada e da parte superior da área amarela do VU, algo entre -3db e -6dB, assim garantimos boa conversão e evitamos picos saturados. Agora abaixe o fader da pista alguns dBs, por volta de 5dB. Agora coloque em um slot de insert um plug-in de compressão e aumente o ganho sutilmente até saturar. Olhe o medidor da pista. Clipou? Provavelmente não, mas o sinal chegou saturado e durante uma mixagem isso é bem provável de acontecer arruinando o som, principalmente se o plug-in estiver com sua janela fechada.

Figura 2 – Pista com plug-in clipando, mas sem indicação no fader da pista. Pré-fader metering desligado.

Continuando o teste: Vá ao menu Option e ligue a opção Pre-Fader Metering, clicando sobre ela. Dê play novamente olhando o VU da pista. Clipou? Agora sim! Fique esperto de agora em diante em suas mixagens.
Figura 3 – Pista com plug-in clipando e indicação no fader da pista. Pré-fader metering ligado.

Esse tópico pode gerar algumas discussões paralelas, principalmente quando levamos em considerações as sessões de 32Bits de ponto flutuante que permitem headroom além do necessário, mas eu diria que medir tudo pré-fader é mais uma questão de costume do que uma técnica, pois a maioria das pessoas mixa e até grava em modo pós-fader, apenas julgando a própria percepção e valendo-se daquela máxima: Se soa bem, está certo! (Joe Meek).

  1. Fader coupling – acoplamento de fader
Acabei de inventar esse termo. Achei simples e direto. Oficialmente este termo chama-se Link Record and Play Faders, que significa: amarrar faders de gravação e de reprodução; muito comprido e sem graça para meu gosto. Essa preferência de funcionamento fica dentro do Menu Setup / Preferences, exatamente na guia Operation e dentro do campo Record. Desligar esta opção default para mim é melhor.

O que acontece? Desligando-a o Pro Tools passa a memorizar duas posições diferentes de fader para a mesma pista: uma para quando o botão de gravação da pista está ativo e outra para quando este botão está desativado.

Para que serve? No processo criativo de uma produção é normal fazer um monte de remendos nas gravações, ir mixando, fazer mais gravações na mesma pista, insertar plug-ins, editar; esse é um dos jeitos e quando movimentamos o fader na mixagem, por default alteramos também o volume da monitoração do input, daí esta opção vir a calhar.

Figura 4 – A janela de preferências do Pro Tools.


Depois que fizermos uma gravação é natural colocar plug-ins e, invariavelmente, iremos controlar o fader de volume que muitas vezes irá baixar. Fazendo isso, por default também iremos abaixar a intensidade de volume da monitoração quando precisarmos fazer uma nova captação, daí temos que ajustar o fader novamente para monitorar e perdemos o ponto da mixagem da pista (não queremos mexer no pré), sendo necessário ajustá-lo mais uma vez durante o playback. Desativando a opção de acoplamento de faders podemos manter sempre intacta a posição de monitoração do sinal de gravação e também do ponto do fader para a mixagem.

Vale lembrar que isso é muito útil também quando estamos utilizando a função Low Latency monitoring, que depende de determinados hardwares para funcionar. Como esta funcionalidade dá bypass nos plug-ins e mandadas auxiliares é muito provável que a monitoração da gravação deva ser ajustada pelo fader, mais uma justificativa para desacoplar os faders.

  1. Buffer Size – Tamanho do buffer
Nós que vivemos o começo da digitalização do áudio analógico nas gravadoras, nos estúdios, home studios e outros locais menos especializados, sofremos em alguma data com o atraso computacional mais importante da nossa área, a latência. Quem durante a carreira passou em algum momento pela Soundblaster 16 e suas amigas, como alguém que conheço desde o nascimento, certamente passou frustração, mas foi-se o tempo que esse atraso dava margem à maledicência e pegava-nos na curva atrapalhando o molho.

Hoje pouca gente reclama de latência, pois é tranquilo abstrair sua existência para tocar no tempo certo monitorando via software, excetuando os casos de jazz/blues que precisam de um auto-lag ligado em nossas cabeças.

Através de uma formulinha simples podemos calcular (de uma forma aproximada) a quantidade de atraso gerado na entrada e na saída (conversão AD e DA) que será expressa em milissegundos e que iremos enfrentar em nossas gravações com monitoração via software: basta dividir o Buffer Size pelo Sample Rate e multiplicar o resultado por 2. Esse primeiro valor, expresso em samples, está definido na caixa H/W Buffer Size do menu Setup, opção Playback Engine e, o segundo, que está definido em kHz, pode ser encontrado na caixa Sample Rate da janela Session Setup, acessível através do menu Setup, opção Session.


Figura 5 – Janela Playback Engine.


Figura 6 – Janela Session Setup.

Sendo assim, se definirmos um buffer size de 128 samples em uma sessão de 44.1kHz teremos um atraso final de aproximadamente 5,8 milisegundos. Se aumentarmos o Sample Rate para 96kHz o atraso diminui para algo em torno de 2,6ms.

Disclaimer: Não quero aqui fazer um tratado de benchmarking e é fato que ainda há outros fatores que influenciam esse atraso (principalmente driver e hardware) e que não entraram no cálculo, mas esse ponto de partida é um bom começo para entendermos como funciona a latência e evitamos contas Arquimedianas e conceitos complexos dos quais domino nenhum.

Fora o fato de sabermos esta fórmula (quase insignificante) e o de ter uma boa máquina ao nosso serviço é fundamental para acertarmos a quantidade de samples alocados para o buffer de acordo com o que iremos fazer. Como vimos acima, poucos samples alocados ao buffer e em conjunto com uma taxa de amostragem alta irá permitir baixas latênicas, que é especialmente interessante para gravações. Um buffer size alto permitirá mais recursos alocados na sessão e passa a ser interessante para mixagens, mas esse texto todo até aqui não é o cerne da questão.

O importante é que o Pro Tools só trabalha com um buffer size fixo que seja múltiplo de 32 samples, diferente do Ableton Live, por exemplo que aceita variantes menos conservadoras. Algumas interfaces de áudio específicas inclusive permitem alocar o mínimo de 32 samples para o buffer, como é o caso da HD Native, propiciando latências minúsculas em conjunto com uma alta taxa de amostragem. A partir de 32, os demais buffer sizes possíveis são 64, 128, 256, 512, 1024 e 2048 samples. Todos estes tem relação direta com o hardware de áudio.

Hoje, para esta matéria, estou usando uma Mbox 3ª geração e os buffer sizes permitidos com ela tem uma tessitura de 128 a 1024 samples apenas, nem muito baixo a ponto de uma latência irrisória, nem muito alto a ponto de acomodar sessões pesadas. Fique esperto com esses múltiplos de buffer sizes, pois agora que o Pro Tools abriu para funcionar com outras interfaces de áudio temos que levar isso muito em consideração antes de comprar uma que não seja da avid, pois nem todas têm drivers que trabalham com estes valores específicos, como é o caso da US-800 da Tascam, que não pode ser utilizada com o Pro Tools porque só funciona em buffer sizes fixos que não são compatíveis com nosso software mór, sabe-se lá se alguém no Japão esteja pensando nisso...

São os detalhes que fazem a diferença!
Parece slogan de propaganda medíocre de desodorante, mas não é, essa ideia vem do Mies van der Rohe e garanto que vale a pena levar em consideração. Less is more!



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