Aprender Música
Homestudio: Para qualquer perfil
Não há sombras sem a luz.
Não há formas sem a matéria.
Não há saudade sem a lembrança.
Não há arte sem a interação.
Todos nós que estamos envolvidos com música e áudio temos praticamente um objetivo primordial: Comunicar.
Mostrar nosso trabalho em público é onde nossa arte toma vida e, em linhas gerais, o nosso talento só pode ser transmitido de duas maneiras: tocando ao vivo para a platéia ou gravando para que o público possa escutar quando quiser.
Esta primeira ação é relativamente fácil, basta tocar o instrumento ou apertar o "play" e mixar (no caso dos Djs) e pronto; agora, quando fala-se em gravação, começam as dúvidas e aquela torcida de nariz inevitável acontece.
Transmitir arte sem estar presente pode ser tão divertido quanto a própria performance em si e o mais incrível é que podemos tocar conosco mesmo quando e quanto quisermos, sonho de qualquer músico.
Gravar uma performance é um convite à produção musical. Pouquíssimas vezes alguém grava uma linha instrumental que fica pronta na hora e seu autor fica contentente somente com o que acabou de registrar. Com certeza a imaginação irá sugerir algum outro complemento (nem que seja um discreto reverb) e, já que as portas das possibilidades estão abertas, quando percebemos já estamos produzindo um disco.
O grande vilão dessa história toda de investir em um homestudio é exatamente a oferta insana de produtos para realizar esta pequena tarefa, gravar. Existem tantos produtos diferentes no mercado e as campanhas de merketing são cada vez mais agressivas que muita gente desiste e prefere pagar um técnico e alugar um estúdio para resolver o inexistente problema da gravação e abstraem a idéia de ter um homestudio em casa para concretizar suas produções. Não é necessário ter um homestudio com som da Abbey Road para ficar feliz, podemos ter limites, que pode ser um microfone ou uma sala acústicamente preparada, e depois pode-se ter a opção de ir ao estúdio "profissional" para complementar o trabalho e depois voltar ao homestudio para continuar. Muitos artistas nem vão ao estúdio, fazem tudo em casa.
Ter um homestudio é muito simples, e usá-lo também é tarefa fácil, vamos ver as duas grandes vertentes:
Para os que têm ojeriza à complexidade ou são incompatíveis com computadores e softwares podem contar com uma solução excepcional, os Portastudios. Estes equipamentos são idênticos aos antigos gravadores de fita cassete, porém permitem que se grave várias pistas separadas que podem ser tocadas de volta simultaneamente. Por exemplo: o ato de gravar um violão e depois gravar uma voz ouvindo o violão que foi gravado em uma pista separada chama-se
Overdubbing e este processo é o mais comum dentro dos homestudios que normalmente tem uma pessoa só no comando e nos instrumentos. Qualquer um que consiga usar um microondas consegue pilotar um Portastudio. Estes equipamentos são tão simples (e portáteis) que seu uso basicamente se limita a plugar um instrumento ou microfone, apertar o botão REC e pronto. Alguns destes equipamentos tem até microfones embutidos e gravador de CD, do qual você pode queimar um disco pronto para tocar em qualquer lugar e começar a sua própria distribuição. Não há nada mais simples que isso - um só equipamento, mas, como eu disse antes, estes equipamentos também sofrem da sina da múltipla oferta comercial e existem às dezenas de opções, desde pequenos gravadores de 4 pistas sem efeitos e que cabem no bolsa da camisa até gravadores com centenas de pistas virtuais, efeitos, emulações, ritmos, instrumentos virtuais, barômetro, porta-copo, cinzeiro, indicador interativo de nível de estresse no homestudio acerca da procura da função "melhorizer" e outros recursos que você nunca irá utilizar.
Tenha em mente que se você é do tipo "plug-and-play" e que detesta configurações e tudo que envolve acertar os palitos para gravar e quer focar apenas em tocar, opte por um Portastudio. É importante dizer que o termo Portastudio é uma denominação específica da marca Tascam, mas acabou virando sinônimo desse tipo de produto justamente por ter sido a primeira empresa a se dedicar a esse tipo de público, desde a 30 anos atrás.
O segundo cenário envolve o uso do computador e é aí que começam a fundir motores. Qual computador? Qual interface de áudio? Microfone condensador ou dinâmico? Pré-amplificador valvulado ou transistorizado? Monitores de áudio, 3 em 1 ou fone de ouvido? Software? Capitão gancho ou original? Preto ou prata? São tantas as perguntas e só há uma resposta certa: não há resposta certa.
Polemicamente uma coisa é certa apenas: A mesa de som não é mais necessária. Esta só vale a pena se tiver personalidade e realmente contribuir para o som, como as grandes consoles inglesas. Caso contrário, se for uma mesinha "normal" ela vai apenas adicionar ruído no sinal, portanto é melhor usar um pré-amplificador (caso necessário) ligado diretamente ao conversor analógico-digital (leia-se interface de áudio) justificando o conceito "minimum path" (menor caminho). Começou o papo complicado? Vamos simplificar!
Para gravar usando um computador vamos precisar (obrigatóriamente) os seguintes itens:
1 par de monitores (caixas de som ou fone de ouvido)
OBS: A função da interface de áudio é converter o sinal analógico (a representação elétrica do som (ondas mecânicas com variação de pressão - ar) captada por algum transdutor (microfone, por exemplo) em sinal digital (números binários) para que possamos gravar de uma forma que o computador entenda. Depois esta tem que transformar o sinal digital em analógico novamente, para que possa ser encaminhado a outro transdutor (caixa de som - que transforma o sinal elétrico em ondas mecânicas - ar de novo!) para podermos ouvir o que foi gravado, portanto as interfaces têm dois conversores: analógico-digital e digital-analógico, simplificando ainda mais: AD/DA.
Alguns agregados talvez sejam necessário e estes dependem do que você irá fazer, exemplos:
Se você vai gravar através de microfones, você irá necessitar de um destes, propriamente dito, e também de um pré-amplificador, mas e se estes estiverem dentro da própria interface de áudio? A Apogee, um dos mais respeitados fabricantes de interfaces de áudio, lançou a pouco tempo um produto (ONE) que tem um microfone embutido e tembém pré-amplificador integrado, portanto gravar instrumentos acústicos (violão, flautas, voz e cajón, por exemplo) no computador é super fácil. O único detalhe é que ele só funciona com computadores da Apple, mas nada impede que você teste um e acabe gostando. Outro ponto favorável neste setup é que o software de gravação vem gratuitamente com o sistema operacional (Garage Band) e é bem fácil de usar e tem ótima sonoridade e muitos recursos. Veja que simples ficou: Uma interface de áudio que aceita entrada de instrumento com captadores ou de teclados e tem até um microfone embutido (a ONE) e mais um computador Apple. Com só isso você já tem um estúdiozinho e tanto, basta escolher um par de fones de ouvido e fechou a conta. Sem contar que não estremos contribuindo com a pirataria.
Assim como o Photoshop é o padrão nas agências de todo o mundo, o Pro Tools é o default nos estúdio de gravação (de qualquer porte!). Usar o Pro Tools é poder estar compatível com a maioria dos estúdio por aí - lembra aquela limitação dos homestudios, então... você começa no seu homestudio, vai para o estúdio e depois volta ao homestudio, fácil e rápido, além de economizar algum para o restaurante no final de semana.
O Pro Tools é muito criticado no mercado de ser travado e é verdade! Ele só funciona com as próprias interfaces de áudio, mas você não vai comprar uma interface de áudio de qualquer maneira? Aproveite então e compre uma que venha com o Pro Tools grátis, como a linha MBOX ou 003 da Digidesign. Nada impede que você não utilize o Pro Tools com sua interface da Digidesign e parta para o Record, por exemplo, pois estas são compatíveis com qualquer outro software do mercado e software é questão de gosto. O contrário é que não funciona: se você tentar abrir o Pro Tools com uma interface da Presonus não vai funcionar, daí o travamento. Se você optar por uma interface da M-Audio (que é da mesma empresa que a Digidesign) você pode usar o Pro Tools na versão M-Powered, mas é vendido separadamente, porém há mais opções de interfaces de áudio.
Como o Pro Tools é o default (e muito intuitivo), e que praticamente todo mundo fala sobre ele, é muito fácil achar material didático sobre o software, inclusive em português, portanto, em alguns cliques na internet você irá achar muitas dicas de como usar o software, inclusive há vídeos e livros de como operá-lo sem mistério.
Pense comigo: Um computador (pode ser PC ou Apple), uma interface de áudio MBOX MINI, que tem dois canais de entrada com pré-amplificadores e aceita sinal de praticamente qualquer instrumento ou periférico e o Pro Tools já formam um estúdio de gente grande sem custar mais que uma visita ao seu mecânico.
Você baterista, vai precisar de uma interface de áudio com mais entradas para poder gravar todos os instrumentos separados em seus respectivos canais, neste caso pode-se substituir a MBOX MINI por uma do mesmo fabricante, a 003 Rack +, por exemplo, mas pense comigo: Que tal comprar uma bateria eletrônica, dessas com pads MIDI e disparar timbres de uma DW, Pearl ou alguma marca esotérica de uma biblioteca com muitos gigas como o BFD 2 da FXpansion com controle absoluto sobre o posicionamento virtual dso microfones e ausência de vazamento entre a captação das peças? Tenho certeza que você já ouviu muita música feita desse jeito e achou que era uma bateria de verdade. Abra a cabeça para os instrumentos virtuais. Os tecladistas já mergulharam nessa onda...Esse é o teclado do futuro, os softwares de instrumentos virtuais.
O grande lance dos homestudio é poder gravar em pistas separadas assim é possível diminuir o som do violão em relação à percussão, por exemplo. Desse modo preocupe-se mais com a quantidade de canais de entrada e pré-amplificadores embutidos do que com o fato de ser USB, firewire ou PCI, ter wordclock, ter resolução melhor que 44.1kHz em 16 bits e assim por diante. Uma coisa só é a mais importante: Se você precisa gravar mais coisas simultâneas, opte por mais entradas. Se você é do tipo "Overdubber" dois canais caem muito bem. Normalemente as interfaces de áudio trabalham no mínimo na qualidade de CD, que já é muito bom, mas no fim tudo vira mp3, mais uma questão para a gente discutir mais pra frente, portanto não se preocupe muito com isso.
Independente de qual marca de interface de áudio você opte ou de qual software você preferir, imagine que quanto menor for o caminho que o áudio tem que passar até chegar ao conversor digital, melhor (caso você não tenha nenhum equipamento com personalidade), portanto pense em um homestudio baseado em um único produto.
Uma interface de áudio que já contenha tudo é o ideal: Entradas de microfone com phantom power, entradas de linha, entradas de instrumento (Hi-Z), pré-amplificadores e que venha com um software bom. Quer melhorar um pouco? Invista em um pré-amplificador valvulado de verdade (que trabalhe em alta voltagem) como os produtos da Universal Audio 710 Twin Finity ou o 610 Solo.
O mercado está ótimo para quem quer investir. A concorrência está alta é isso melhora a qualidade e oferta de produtos, entretanto será necessária alguma pesquisa para que o discernimento seja correto. Teste, pesquise e não compre simplesmente por impulso ou influência de algum vendedor entubado de produto. Invista em empresas que se preocupam com a qualidade dos produtos que vendem, com o pós-venda e tenha absoluta transparência e conduta fiscal correta, suporte técnico gratuito e manutenção especializada, pois nunca se sabe o dia de amanhã.
É um prazer poder falar de um assunto que eu adoro. Vamos destrinchar este mistério e esse mar de equipamentos e opções para que a gente possa investir corretamente e se sentir feliz no que gostamos de fazer: transmitir a nossa arte.
Até o próximo post!
http://www.apogeedigital.com
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